A qualidade da relação e a depressão pós-parto
A gravidez representa uma fase de transformação incomparável na vida da mulher, abrangendo aspectos psicológicos, metabólicos, químicos e relacionais.
No entanto, a gravidez não interrompe a vida da mulher. É esperado que ela continue a cumprir seus papéis e responsabilidades, adicionando preocupações relacionadas ao ser em seu ventre e aos próximos anos de dedicação a ele.
É uma experiência singular e pessoal. Embora seja vivenciada por mulheres em todo o mundo diariamente, é quase inevitável sentir confusão, indefinição, descontrole, medo, ansiedade e tantos outros sentimentos nesses momentos.
São muitos os desafios, que podem se tornar extremamente dolorosos quando enfrentados sozinhos, especialmente se a mulher estiver solitária.
Felizmente, cada vez mais se discute o papel ativo do parceiro na gravidez. A participação nos exames, compromissos compartilhados e cuidados divididos. Tais atitudes proporcionam uma sensação maior de segurança para a mulher grávida, aumentando o sentimento de conforto, acolhimento e compreensão.
Porém, pouco se fala sobre a associação entre uma gravidez solitária e a depressão pós-parto. A depressão pós-parto afeta cerca de 25% das mães brasileiras até 18 meses após o parto. Esse quadro é caracterizado por uma sensação de isolamento, incapacidade, insegurança, medo, desinteresse nas pessoas e no bebê, choro constante e, em alguns casos, pode evoluir para psicose pós-parto, com sintomas alucinatórios e persecutórios.
A depressão é multifatorial, mas durante a gravidez, um fator significativo para seu desenvolvimento é a falta de apoio social, principalmente do parceiro. A perspectiva de lidar com tudo sozinha, o medo resultante disso, a sensação de constante possibilidade de falha, o julgamento real ou percebido, a solidão e a incompreensão do parceiro aumentam os sentimentos negativos em relação a si mesma, criando um ambiente inseguro e favorável à depressão.
Então, como lidar com isso?
Primeiramente, é importante reconhecer a importância desse momento e os impactos emocionais do que está sendo vivenciado. Em terapia, meu papel é auxiliar o paciente a reconhecer os desafios, seus esforços e acolher os sentimentos decorrentes disso. Além disso, podemos criar, junto com o paciente e seu parceiro, espaços seguros de conversa para promover a comunicação e o acolhimento mútuo, entendendo as dificuldades de cada um.